“A gente aprende muito uma com a outra. Ela tem uma vivência muito diferente da minha nesse universo travesti, aí chamei ela pra participar”, conta Isma Almeida, estudante, que performará “Travacorpos” no Sarau Sons Poéticos. O Sarau é uma iniciativa que chega a sua 21ª edição na Universidade Federal de Uberlândia. Visando integrar paixão artística e as possibilidades do espaço físico e simbólico da academia, a edição atual do evento centraliza a temática da ausência de travestilidades e transexualidades em espaços educacionais e do trabalho formal. Sarau acontece no fim de outubro e é aberto a comunidade não acadêmica.
por Emerson Luiz
Sarau Sons Poéticos é uma iniciativa artística que acontece mensalmente dentro da Universidade Federal de Uberlânia (UFU). A idealizadora, Valéria Resende Teixeira, que capitaneia a realização de todas as edições, diz que o Sarau é organizado visando integrar todas as plataformas de expressão artística. “O Sarau tem por objetivo transformar o espaço da biblioteca em cenário de vivências artísticas (poéticas), integrando as áreas da literatura, música, teatro, dança e artes plásticas”, afirma. Conta também que o Sarau é um espaço para os “amantes da arte e da poesia” e que, além disso, tanto integrantes quanto não-integrantes dos espaços acadêmicos da universidade podem participar.
Em sua 21ª edição, ocorrente ao fim do mês de outubro, na última quarta-feira (31), o Sarau Sons Poéticos traz a temática “Cores (In)Visíveis: a invisibilidade trans nos espaços educacionais e de trabalho formal”. O evento reunirá um conjunto de três performances e uma exposição fotográfica sobre a vida de travestis e transexuais, sendo elas: “Travacorpos”, por Isma Almeida e Amanda Costa; “Benedita”, por Maria Antonella; “Canto sobre aquilo que sou e acredito”, por Leonor; e a exposição “Liberdade Trans Atlântico”, pelo fotógrafo Pedro Oliveira.
Isma Almeida é travesti, tem 20 anos e é estudante do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia. Às quintas-feiras, faz aulas de Teatro também na universidade. Em entrevista, conta que foi convidada a participar do Sarau, e a partir do convite chamou Amanda Costa, com quem Isma protagonizará a performance. Amanda é estudante de Biologia, também da UFU, e também é travesti, e por isso as duas compartilham vivências muito símiles, mas também muito diferentes. Ser travesti, entretanto, é o que as conecta. As vivências de ambas combinadas em “Travacorpos” é importante para Isma, que conta que a presença de Amanda “enriquece a performance”.
Falando sobre a “Travacorpos”, Isma conta que, primeiramente, a performance foi pensada, e logo depois veio o nome. Na percepção de Isma, o nome “Travacorpos” é algo “muito simbólico”. “Na performance, a gente vai trabalhar muito com o corpo, a expressão corporal. E aí, são corpos travestis, aí a gente uniu essa coisa, de corpos e de travestis”.
As duas têm preparado “Travacorpos” por dois meses, intervalo de tempo no qual também foi feito o convite. Isma conta que ela e Amanda possuem tudo planejado e escrito, mas que objetiva trazer espontaneidade a performance. “Com performance, eu acho interessante deixar uma coisa mais livre, porque se a gente ensaia muito pra mim é teatro”, diz.
A performance toda é cercada por vivências, que vão desde a intervenção artística até a trilha sonora pela qual será guiada. Isma conta que “Travacorpos” tem como pano de fundo musical a artista Linn da Quebrada, notória pela sua existência travesti e sua arte de autoafirmação e protesto.
Sarau Sons Poéticos ocorrerá no Saguão Interno da Biblioteca da UFU (espaço aberto adentrando a biblioteca e passando pelas catracas, no térreo), no horário das 19h30 às 21h30. O evento será aberto para toda a comunidade acadêmica e não acadêmica. Mais informações sobre o evento e edições passadas podem ser encontradas na página do Facebook.
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