O evento chega a sua 17ª edição na cidade de Uberlândia e o CORagem conta um pouco da trajetória desse movimento pelo mundo.
por Lucas Ribeiro
A Parada do Orgulho LGBTQI+, antes chamada de Parada Gay, é um movimento realizado por meio de um evento com ações afirmativas para a comunidade LGBTQI+ que acontece nas ruas para mostrar, comemorar e protestar de forma alegre sobre assuntos que fazem parte da luta da comunidade. A celebração também tem a função de manifestar contra a homofobia e reivindicar direitos iguais, como no caso do casamento entre pessoas homossexuais, além de outras pautas.
Geralmente ela acontece anualmente e por volta do mês de junho - apesar das datas das edições não serem padronizadas - pois foi nesse mês que ocorreu a rebelião de Stonewall, momento crucial para os movimentos civis LGBTQI+ que acontecem até hoje.
A Parada também promove e mostra o trabalho de diversos colaboradores e organizadores ativistas, estes que estão sempre apoiando e participando da luta para conquistar direitos negados à comunidade e desrespeitados pela maioria da sociedade.
Segundo os dados históricos, essas manifestações tiveram início em 1969 com a batida policial que aconteceu no bar Stonewall, em Nova Iorque e fez com que os homossexuais frequentadores do local se rebelassem contra os abusos e repreensões das autoridades.
- A REBELIÃO DE STONEWALL -
Segundo a história, Stonewall era um dos principais bares frequentados por gays e lésbicas na década de 60, época em que os homossexuais estadunidenses enfrentavam um sistema jurídico anti-homossexual. Poucos lugares recebiam pessoas declaradas abertamente como homossexuais e aqueles que faziam eram geralmente bares, ainda que os donos e gerentes poucas vezes fossem gays.
O Stonewall ficava no bairro de Greenwich Village, Manhattan, Nova Iorque e recebia grande parte de clientes gays e era conhecido por ser popular entre as comunidades marginalizadas, incluindo a parte marginalizada até mesmo dentro da comunidade gay como drag queens, transgêneros, homens afeminados e lésbicas masculinizadas, prostitutos e jovens sem – teto.
As batidas realizadas pela polícia em bares eram comuns nesse cenário e uma dessas chegou ao Stonewall em 28 de junho de 1969. Os frequentadores, cansados da represália das autoridades regiram de forma violenta em protesto aos abusos cometidos contra essas pessoas. As tensões entre a polícia de Nova Iorque e os que frequentavam o bar resultaram na prisão e no espancamento de várias pessoas e isso fez com que 2.000 manifestantes fossem às ruas naquela data.
Houve protestos também na noite seguinte e em várias noites posteriores. Em algumas semanas os moradores do bairro organizaram grupos de ativistas para concentrar –se em conseguirem lugares onde gays e lésbicas pudessem frequentar sem o medo de serem presos.
Essa data, 28 de junho, veio a se tornar o dia oficial do orgulho gay. É válido ressaltar também que nessa época muitos movimentos sociais estavam em atividade simultaneamente, como o movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, a contracultura dos anos 1960 e as manifestações contra a guerra do Vietnã, o que trazia influência para a comunidade gay reivindicar por direitos.
A partir daí, uma movimentação pelos direitos civis dos homossexuais foi iniciada, conquistando vários avanços, luta que a comunidade LGBTQI+ participa até os dias de hoje, mais de quatro décadas depois.
Depois dos acontecimentos de Stonewall, alguns meses depois, foram formadas duas organizações ativistas gays em Nova Iorque voltadas para concentrar táticas de confronto além do surgimento de três jornais estabelecidos para promover os direitos para gays e lésbicas. Em alguns anos, diversas organizações de direitos gays foram fundadas em todos os Estados Unidos e no resto do mundo. Em 28 de junho de 1970, ano seguinte a Rebelião de Stonewall, as primeiras marchas do orgulho gay aconteceram em Nova Iorque, Los Angeles, São Francisco e Chicago comemorando o aniversário do ocorrido e em diversas outras cidades dos EUA marchas semelhantes foram organizadas. Em 24 de junho de 2016, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama oficializou o bar Stonewall como um monumento nacional.
Atualmente, quase todos os países europeus e muitos outros das Américas realizam sua Parada do Orgulho LGBTQI+. O Brasil é sede da maior Parada desde 2007 que acontece na cidade de São Paulo.
Já no exterior, a maior edição do evento é a que acontece em São Francisco, a San Francisco Pride. Depois temos a de Madrid seguida por Amsterdam e Toronto, sendo esse o top 5 das maiores do mundo.
São Francisco é conhecida como a capital gay dos Estados Unidos possuindo uma das maiores comunidades LGBTQI+ do mundo, justificando estar como a segunda maior Parada, ficando atrás somente de São Paulo. Hoje estima-se que participem da San Francisco Pride mais de 2 milhões de pessoas.
Já a Madrid Orgullo, conhecida como Mado, dura cinco dias inteiros e conta com cerca de 2 milhões de participantes por ano e acontece no bairro Chueca, centro da cidade.
Em Amsterdam, a Parada acontece anualmente na primeira semana de agosto e o diferencial é que eles usam dos canais, rios que cortam a cidade, para montarem barcos e carros alegóricos com pessoas a bordo celebrando o orgulho de ser LGBTQI+.
A quinta maior Parada do mundo, a Pride Toronto é um dos acontecimentos mais esperados do verão e é considerado o maior desfile coletivo de pessoas LGBT de toda a América do Norte, contando com mais de 1 milhão de pessoas nas ruas da maior cidade do Canadá.
Ainda no nosso país, o Rio de Janeiro ocupa o posto da segunda maior Parada do Brasil, atraindo cerca de 2 milhões de pessoas para a Zona Sul da cidade. É organizada pela ONG Arco-Íris que faz parte do grupo de fundadores da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
-A PARADA DE UBERLÂNDIA-
Em Uberlândia, considerada a capital do Triângulo Mineiro, o movimento chega a sua 17ª edição, realizada no dia 25 de novembro, numa tarde de domingo e segundo uma das organizadoras, Fernanda Khouri, que participa há dois anos da organização, a expectativa de público a cada edição é de 5 mil pessoas. Expectativa essa atingida todos os anos.
A manifestação recebe apoio da Secretaria de Cultura de Uberlândia que patrocina som e palco, e da ONG Triângulo Trans, além da vereadora Pamela Volp que arca com o restante das despesas.
Para Fernanda, a Parada é de extrema importância: “É um movimento no qual podemos levar mensagens de relevância, de importância até um público maior, onde podemos mostrar o quanto é importante lutarmos pelos nossos direitos, mostrar o número de casos de violência entre outros.”
Outra importante opinião a respeito do evento é do público. Para Diego Junqueira, 23 anos, promoter da boate F5 PUB e aluno do curso de Enfermagem na Universidade Federal de Uberlândia, o evento agradou bastante:
“Pra mim foi maravilhoso. Pude acompanhar a caminhada de cima de um trio elétrico e pude ver o quanto somos diversos. Uma energia positiva, crianças, adultos, idosos, casais héteros, homo, trans, travestis... enfim, foi maravilhoso do início ao fim.”
Para Diego, o evento é importante para reafirmar a existência e resistência da nossa comunidade:
“A importância é reafirmar que nós seguimos aqui. Que nós estamos vivos, resistindo. Evidenciar que temos voz, somos gente, cheios de vida, cor e alegria. Além disso, considero importante, pois podemos atrair os olhares da sociedade para os problemas que enfrentamos na rua, no trabalho; a violência que existe e sofremos.”
Questionado sobre a concepção de resistência para ele, Diego responde:
“Resistência pra mim é ‘dar a cara a tapa’ pela causa LGBTI mesmo que tudo não esteja ‘a favor’ - mesmo que a intolerância impere. É unir forças e resistir, de fato, à intolerância.”
O jovem afirma suas expectativas positivas para a próxima edição da Parada do Orgulho LGBT de Uberlândia:
“Estive presente na edição do ano passado também e notei um amadurecimento imenso por parte da organização. Então espero que o evento esteja ainda mais maduro, com mais representatividade, abordando temas diversos dentro da causa. Além disso, espero que possamos alcançar mais ainda não só o público LGBTI, mas também simpatizantes.”
A Parada uberlandense foi organizada anteriormente pela ONG Grupo SHAMA – Associação Homossexual de Ajuda Mútua – que trouxe índices positivos ao evento como o baixo número de desordens e ocorrências durante o evento, além de atrações conhecidas como a drag queen Dimmy Kieer, de São Paulo, que esteve presente na 7ª edição que aconteceu em 2008.
Muitos temas importantes foram abordados durante as edições do movimento realizadas na cidade mineira, citando por exemplo o da edição citada acima que foi “Homofobia mata! Por um Estado laico de fato” que na época estava em alta pela aprovação do projeto de lei 122-06 que torna crime a agressão física ou verbal aos homossexuais e que estava parado no Senado devido resistência das partes conservadoras e religiosas.
Na 15ª edição o tema em questão foi “Respeite as identidades trans”, dando destaque aos membros da letra T da sigla. Já a 16ª trouxe diferenciais como a programação de três dias que contou com um happy hour lésbico com militantes sociais, que aconteceu no F5 Pub e a gaymada na praça Sérgio Pacheco, onde participantes LGBTQI+ jogavam a tradicional Queimada, além da Parada encerrando as atividades no terceiro e último dia.
A edição desse ano contou com diversas atrações além da principal e mais aguardada, a drag Aretuza Lovi. O evento começou cerca das 14h da tarde do domingo (25) com concentração de pessoas na praça Clarimundo Carneiro, no centro de Uberlândia e, por volta das 17h o público, muitos vestidos com fantasias e adereços coloridos, seguiram os três trios elétricos pelas principais avenidas do centro de Uberlândia.
O fotógrafo Alexandre Oliveira, de 23 anos não deixou de dar sua passada na Parada mesmo com trabalhos agendados no dia:
“Todos os anos sempre passo na parada, não pela festança em si, mas para celebrar a luta pela causa. Esse ano trabalhei grande parte da parada, mas fui antes para participar um pouco do movimento. O que me leva lá é o sentimento de igualdade, me anima bastante ver que tenho pessoas ao meu lado e pessoas em todos os lados lutando pela nossa causa.”
Ele ainda dissertou sobre seu ponto de vista em relação ao que leva as pessoas a comparecerem na Parada:
“Particularmente, no meu ponto de vista apesar de toda a luta e ter pessoas engajadas em prol disso, falta muito ainda, e a maioria do público não está lá com o motivo correto, então minha expectativa não foi suprida, porque vejo muito mais pessoas indo apenas pra beber e "beijar", do que lutar pela causa. Então é uma base de interesse, espero um dia que a maioria do público vá para lutar, protestar e colocar realmente a "cara no sol".”
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