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(IN)VISIBILIDADE LÉSBICA

eu tive uma namorada com super poderes de invisibilidade e quando andava com ela também era invisível


mas quando ela usava uma blusa transparente virava a incrível mulher-teta


eu continuava sob o guarda-chuva de superpoderes superinvisível


invejável ao lado das cervejas e superamendoins


Poema nº5 do “Livro rosa do coração dos trouxas”, contido em Um útero é do tamanho de um punho, de Angélica Freitas


por Gabriela de Carvalho



Em uma sociedade com traços culturais machistas tão fortes, as mulheres são vistas como acessórias dos corpos masculinos, como próprias extensões desses corpos. Submissas e propriedades dos homens, elas são criadas para servi-los e para exercer suas vontades. Criam-se criadas. Porém, imersas em contextos opressores, elas resistem. Sejam as feministas, as independentes, as lésbicas. Essas, corajosas, ousadas e fortes, assumem seus gostos, suas sensações, seus sentimentos em busca de felicidade e da própria identidade. Entretanto, na via contrária, deparam-se com o preconceito, com o rótulo de aberração. São diversas as opressões que compactuam com a invisibilidade da mulher lésbica.

Daniela Mercury e Malu Verçosa comemoram o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica.

Devido às inúmeras questões que oprimem sua existência, foi estipulado o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica no dia 29 de agosto. Ela foi criada por militantes lésbicas brasileiras, durante o 1° Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), em 1996. Essa data representa muita memória, luta e resistência para todas as mulheres lésbicas e bissexuais. Por isso, a partir dela, foi estipulado também, que Agosto seria o mês da Visibilidade Lésbica.

“A existência de um dia nacional para visibilidade lésbica nos conduz a algumas incômodas, porém necessárias, constatações. A mais imediata delas diz respeito ao próprio cenário que torna essa data de mobilizações urgente. Quando clamamos por visibilidade, este é um sinal óbvio de que nossas demandas, individuais e coletivas, têm pouco ou quase nenhum espaço no jogo político. Infelizmente, as teias que tecem esse drama são diversas e todas muito bem conectadas”

Láris Vasques, lésbica, membro da Comissão Especial LGBT do Conselho Regional de Psicologia e psicóloga do Centro de Referência em Direitos Humanos do Distrito Federal.

A existência da mulher lésbica a coloca como objeto contrário e indesejado do sistema patriarcal vigente. Isso acontece, pois seus desejos sexuais e seus sentimentos não se direcionam aos homens, objeto central da sociedade machista e misógina. Assim, essa existência é transformada em fantasia, é justificada com uma provável ausência de experiências satisfatórias com ‘verdadeiros homens’. Enfim, vários são os porquês sugeridos, mas todos são provenientes de uma mesma fonte: a invisibilidade da mulher lésbica. A negação da sua existência é uma simples consequência da total ausência do domínio que ela exerce sobre seu corpo e sua sexualidade, não sendo sujeita de nenhum deles.

Frente a isso tem-se consequências severas:

  • Fetichização:

Lésbicas são procuradas em bares, em aplicativos de relacionamentos para participar de relações sexuais e satisfazer desejos masculinos. A fantasia está concretizada nos sites de conteúdo pornográfico, recheados com um número excessivo de vídeos lésbicos.

Como esses sites possuem o maior número de consumidores composto por homens (76%, segundo o canal Sexy Hot), a maioria do material produzido é baseada nas relações heteronormativas. A partir da soma desse dado com o divulgado pela PornHub, de que a palavra “lésbicas” foi a segunda mais buscada por brasileiros em 2016, conclui-se que o conteúdo lésbico não é intencionalmente produzido para mulheres, e sim para homens.

Dessa maneira torna-se cada vez mais intensa a erotização da orientação sexual e as relações lésbicas são reduzidas, muitas vezes, a um objeto de desejo para o sexo masculino.

De acordo com o Gráfico divulgado pelo canal PornHub, nota-se que o termo "lesbian" (lésbica, em inglês) está em primeiro lugar entre os termos mais procurados em 2017 no mundo todo.
  • Agressões verbais, psicológicas e físicas:

Além das formas de agressão mais comuns, como xingamentos, pressões psicológicas, discursos homofóbicos, há também o estupro corretivo. Esse termo consiste no ato de estupro de lésbicas e bissexuais a fim do “reparo” de sua orientação sexual. Esse crime hediondo possuía, até mesmo, manuais de como fazê-lo na internet, como o blog chamado “Homem de Bem” que redigia conteúdo a favor do estupro corretivo de mulheres homossexuais e ofertava dicas de abordagem, de sequestro.

Segundo Irina Karla Bacci, mestre em Direitos Humanos em Cidadania pela Universidade de Brasília, ex-ouvidora do Ministério de Direitos Humanos “Há nele um requinte de machismo associado à lesbofobia, o que traz uma enorme crueldade”. Segundo a especialista, o crime une o abuso do corpo da mulher com o preconceito que parte da idéia que é possível se mudar a orientação sexual da lésbica. Nesses crimes, os abusadores agem com mais violência, por considerarem a mulher mais frágil, mas por ser lésbica, merecer “sofrer como um homem”. É comum também frases como “vai aprender a gostar de homem” ou “agora você vira mulher de verdade”, de acordo com a mestre.

O Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil de 2014 a 2017 também categoriza o suicídio de lésbicas como lesbocídio, uma vez que essas mortes são motivadas por crimes de ódio coletivo.


Número de lesbocídios por ano de 2000 a 2017:

Fonte: Grupo Gay da Bahia, Lesbocídio – As histórias que ninguém conta
  • Negligência na saúde:

Apesar de existirem algumas políticas públicas que visam incluir os métodos para a promoção do sexo seguro entre mulheres, como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher e a Política Nacional de Saúde Integral da População LGBT, instituída pela Portaria nº 2.836/2011, esse ainda é um tema pouco abordado pelo governo e por suas instituições.

Livre apenas dos riscos de engravidar, o sexo lésbico também é passível da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como sífilis, herpes genital, HPV, tricomoníase, gonorréia, clamídia.


Cartaz produzido em uma das raras campanhas de inclusão da população lésbica e bissexual. Cartilhas, adesivos foram distribuídos a fim de promover o empoderamento das mulheres e disseminar informações sobre a rede municipal de enfrentamento à violência LGBT.

Entretanto, mesmo com o panorama infeliz e desanimador, sem espaço, sem expressão e sem representatividade, as mulheres lésbicas sempre existiram, existem e existirão. Elas lutam pela existência em meio a uma sociedade que as oprime, as estupra e as nega. Mas elas existem e resistem, pois, “se fere minha existência, serei resistência”.


Foto tirada no ato em comemoração a descriminalização da homossexualidade na Índia. (Fonte: Vox)

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Lariany Almeida
Lariany Almeida
24 Kas 2018

É incrível como seus textos têm sempre tanto conteúdo, você é maravilhosa, assim como esse Blog ❤️

Beğen

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