Filme com direção de Alice Riff que veio a Uberlândia pelo festival fórumdocMG de cinema e antropologia de 2018 levanta questionamentos sobre a existência LGBTQI+ periférica. O longa de 72 minutos faz honra ao seu título, trazendo um olhar etnográfico sobre a vida de quatro militantes periféricos da causa.
por Emerson Luiz
Meu Corpo é Político constrói uma proposta etnográfica que lança à tela o olhar sobre a vida de quatro narrativas LGBTQI+ periféricas e militantes. Paula Beatriz é uma mulher transexual e negra, licenciada e a cargo da diretoria de uma escola; Giu Nonato utiliza da fotografia e da poesia para ressignificar corpos enquanto movimento político; Fernando Ribeiro batalha em meio as burocracias e negações do Estado pelo reconhecimento de sua identidade masculina; Linn da Quebrada, possivelmente a com maior visibilidade fora dos enquadramentos do filme, é uma artista que leva na “preta periférica transviada” o seu legado e a sua história enquanto traça uma carreira artística.
A etnografia é justamente o olhar pela aproximação, consonância e simbiose de vivências. Em Meu Corpo é Político, ainda que com os entraves vivenciados pelos corpos marginais representados – como a luta de Fernando por um simples nome - a fotografia é próxima e humaniza, a cidade não é tão assustadora e a vida é uma possibilidade.
Em meio a São Paulo caótica e vibrante, pano de fundo da vida de Paula, Giu, Fernando e Linn, e na qual as filmagens são realizadas, as quatro histórias ganham um ar de normalidade (ou pelo menos da ideia que temos do que isso seja). Seguir a vida, mais do que qualquer construção do acaso, e mais do que mera insignificância, é o próprio ato político. Da doçura da vida de experienciar os afetos até o atrevimento de um corpo masculino sair de casa com brincos de cores vívidas, Meu Corpo é Político traz essa tensão diária e intensa entre ser e sobreviver, entre pertencimentos e disparidades, entre subjetividades e o político.
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