O evento “Diálogos sobre Negritude LGBT” foi sediado na Universidade Federal de Uberlândia no mês de setembro e reuniu algumas figuras atuantes nas questões raciais e de diversidade sexual. O evento foi realizado visando a promoção do debate acerca da presença das pessoas negras LGBTs no espaço universitário.
por Emerson Luiz
A Universidade Federal de Uberlândia foi palco do evento “Diálogos sobre Negritude LGBT”, que ocorreu especificamente na penúltima sexta-feira do mês de setembro, dia 21. O evento reuniu diversas figuras ocupantes de cargos importantes no mundo acadêmico e atuantes em coletivos que levantam pautas de raça e de causas LGBTQI+.
O evento veio a universidade em consonância com o evento “Bafro: quando eu passar ninguém mais vai dar risada”, superveniente ao “Diálogos”, sediado na casa Graça do Aché no dia 22. “Bafro” trouxe uma outra proposta com a exibição do filme “Moonlight: sob a luz do luar”, seguido de um debate sobre a interpelação negritude-LGBTQI+ em um segundo momento. Intitulado “Café com Simon Nkoli”, o momento resgatou a memória da trajetória ativista anti-apartheid e a favor dos homossexuais de Nikoli, sul-africano que faleceu no fim dos anos 90.
Dentre os participantes do “Diálogos” esteve Hélder Eterno Silveira, pró-reitor da Extensão e Cultura da Universidade Federal de Uberlândia.
Hélder conta que projetos como “Bafro” vieram como estímulos incitados pela Pró-reitora de Assistência Estudantil (PROAE), por intermédio do edital “Ocupação Graça do Aché”, para revitalização cultural da casa a qual o edital faz menção. Os projetos foram todos aprovados ao fim de junho.
O pró-reitor coloca que a realização tanto do “Diálogos” quanto do “Bafro” despontaram de uma experiência vivenciada em maio desse ano, um mês antes da aprovação do edital pelo qual o “Bafro” foi realizado. Na Graça do Aché, Hélder participou de um debate com a angulação de negritude LGBT, mas que inicialmente seria mais acadêmico. O relato dos participantes – negros LGBTs, de fora e de dentro do meio acadêmico - fez o espaço um lugar de relatos, um grupo de apoio.
Para o pró-reitor, a importância das discussões raciais e LGBTQI+ interpenetradas despertam uma identificação que é diferente daquela que se gera nas discussões das duas temáticas separadas. “Não é uma aderência pela discussão, é uma aderência pela identidade”, afirma se referindo ao debate.
NEGRITUDE LGBT NO MUNDO ACADÊMICO
A realização de eventos como o “Diálogos”, na percepção do pró-reitor, é premente enquanto necessidade de se pensar em um mundo acadêmico que tem discursos e práxis de inclusão desequilibrados entre si. Hélder fala de uma postura de acadêmicos que “inclui no discurso, e exclui na prática”. Fala, também, da universidade enquanto um espaço que “ainda não se constituiu um espaço democrático de discussão para a diversidade” e, por isso, a importância de espaços que promovam o levantamento dessas questões.
QUESTÕES QUE NÃO EXISTIAM
Hélder atua hoje, também, como professor de Química na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e traz no currículo um doutorado em Educação pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Entrou na universidade como acadêmico no ano de 1993, e afirma que, naquele momento de sua vida, a reflexão sobre a presença de negros ou de LGBTs nos espaços universitários era negligenciada. “Eu comecei a faculdade há 25 anos, o que significa que era um outro contexto. Não existia essa discussão, esse debate sobre a presença do negro na universidade era extremamente negligenciada. Essa discussão sobre LGBTs, extremamente negligenciada. Silenciada, totalmente silenciada. Então era uma outra universidade, um outro contexto.”, conta Hélder. “Essas questões simplesmente não existiam”.
Uberlândia recebe, em novembro, a 13ª Parada do Orgulho LGBT . Atualmente, a Casa Graça do Aché ancora o projeto “Retratos da Congada”, uma exposição fotográfica sobre a festa do Congado, herança de matriz africana forte dentro da cidade de Uberlândia. A exposição está aberta até o dia 31 de outubro.
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