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"A sexualidade é um oceano, muitas pessoas fazem dela um aquário e eu faço dela um belo de um mar"


Toni Reis e Silas Malafaia em Audiência Pública sobre o Estatuto da Família.

Transformado em ‘meme’, em 2015, pela sessão de fotos de um debate em que aparece ao lado do Pastor Silas Malafaia, Toni Reis é professor, mestre, doutor, pós-doutor e, além de tudo, é militante pelos direitos humanos, pela educação e pela comunidade LGBTQI+. Atualmente, ele é um dos sujeitos mais importantes na luta brasileira pelos direitos da comunidade LGBTQI.

por Gabriela de Carvalho


Toni nasceu em 20 de julho de 1964, primeiro ano da Ditadura Militar no país. Logo em 1978, aos 14 anos, ele se percebia homossexual e já sentia discriminações. Ainda confuso, contou para a mãe, que aos prantos, pediu para o jovem buscar ajuda com os professores. Assim o fez. As respostas obtidas foram as mais diversas e cruéis: falaram que era pecado, doença, desvio. Frente à ainda escuridão a respeito da orientação sexual de Toni, ele e sua mãe buscaram mais ajudas, mas sem sucesso: médicos o aconselharam esperar seu crescimento para ter a plena convicção; padres disseram para buscar a cura através de rezas para a Nossa Senhora do Socorro. Até mesmo a Assembleia de Deus, Igreja Evangélica que Silas Malafaia integra, foi procurada em busca da cura. Pais de santo disseram que o jovem possuía uma pomba gira com duas cabeças desgovernadas. Muitas promessas, muitas simpatias foram feitas e Toni não foi ‘curado’.

Esse período de negação, de busca da cura durou sete anos. Ao longo deles, o adolescente permanecia confuso, não sabia se era doença, pecado, desvio, “sem-vergonhice”. Após esses anos de trevas, hoje, a respeito de sua orientação, ele afirma “a sexualidade é um oceano, muitas pessoas fazem dela um aquário e eu faço dela um belo de um mar”.

Toni sonhava em ser padre, transferiu o sonho para a profissão de professor. Ingressou no curso de licenciatura em Letras pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi durante essa graduação que a paixão pela militância surgiu, mas, até então, o jovem ainda era assumido de maneira tímida e discreta.

De acordo com o que lia e com as conversas que participava, todos em volta dele afirmavam de forma convicta que o preconceito e a discriminação existentes no Brasil eram consequentes da cultura do país. Frente a isso, ele afirmou “tudo bem então se é cultura, vou mudar de cultura”, e, assim, mudou-se para a Europa.

Em seu período fora do país, Toni viveu na Espanha, na Itália, na França, na Inglaterra. Através dessa experiência, percebeu que o preconceito e a discriminação na sociedade brasileira são culturais e que as pessoas aprendem a ser assim. Desse modo, declara: “a gente pode desaprender e aprender a respeitar todos e todas”.

Sendo assim, quando voltou ao país, Toni Reis se assumiu homossexual de forma mais segura e ingressou de forma mais intensa nos movimentos sociais. Foi um dos fundadores do grupo Dignidade, primeira organização da sociedade civil do Paraná e a segunda região sul do Brasil voltada para a promoção e para a defesa dos direitos humanos da comunidade LGBTQI+, em 1992. Grupo em que atua até os dias hodiernos.

Posterior a isso, foi, também, um dos fundadores da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), em 1995. Toni foi um de seus idealizadores e, logo após a fundação, assumiu o cargo de presidente - que voltou a ser ocupado por ele anos depois.

Atualmente, é diretor-presidente da Aliança Nacional LGBTI, uma organização da sociedade civil, pluripartidária e sem fins lucrativos, que tem como objetivo contribuir para a promoção e para a defesa dos direitos humanos e da cidadania da comunidade LGBTI+.

Para incrementar as discussões, tornar-se autoridade no assunto e fomentar sua vontade de estudos, Toni virou especialista em dinâmica de grupos e em sexualidade humana. Fez graduação em Letras e mestrado em Filosofia, espaço no qual discutiu ética e sexualidade. Além disso, é doutor em educação, título que o proporcionou estudos da homofobia no meio educacional. Fez também pós-doutorado a respeito dos marcos normativos da diversidade sexual.

Pelos cargos que ocupa e pelo conhecimento que carrega, Reis é convidado para bastantes debates, congressos e, em muitos deles, é colocado frente a pessoas com ideologias, crenças opostas às suas e que as têm com veemência. Porém, esse contraste nunca foi um obstáculo para ele, que sempre debateu com personalidades como Pastor Silas Malafaia, Pastor Marcos Feliciano e, até mesmo o presidente eleito Jair Messias Bolsonaro. Sobre isso, Toni afirma: “acho que a gente tem que debater com pessoas que pensam diferente da gente, não há problema nenhum, eu tenho uma calma de um mestre de Yoga. Ela tem o direito de pensar como ela pensa e eu o direito de pensar como eu penso. Então, debato com todo mundo, algumas aumentam o tom, mas eu sempre procurei respeitar todos e todas”.

Sobre as fotos que repercutiram nas redes sociais, Toni ri. Ele as considera supernaturais. Para ele, o fotógrafo conseguiu captar a indignação dele, expressa de maneira tranquila. As fotos foram tiradas em uma comissão que debatia sobre o Estatuto da Família, audiência sobre a qual várias pessoas o aconselharam a não ir, a respeito desse dia, ele declara: “eu quero conversar com as pessoas que pensam diferente. Acho que pregar pra convertido é fácil, pra quem pensa diferente é mais difícil”.

Desde 1990 juntos, Toni Reis vive uma união estável com o britânico David Harrad. Os dois já adotaram três filhos: Alisson, 17 anos, Jéssica, 15 anos e Felipe de 13 anos e são bastante felizes com sua família. Toni Reis e David Harrad, no dia 8 de dezembro deste ano, oficializarão seu casamento.


Toni Reis, David Harrad e seus filhos (fonte: International Family Equality Day)


Toni Reis e David Harrad, juntos há quase 30 anos, oficializarão seu casamento em dezembro. (fonte: Gazeta do Povo)

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